Estava eu, ou melhor, nós, em pleno dia de aulas, um dia comum, de certo. Se fazia sol ou chuva, não me me lembro. Sei que foi já à uns largos largos anos, andava eu na tenra idade do sexto ano. Estava na aula de moral, a um dia que a minha mente vaga não se consegue lembrar também, mas faremos de conta que era sexta-feira. A professora, magrinha e carrancuda, de cabelo curto, óculos redondos e de estatura média, chegou à sala. Nós já sentados, porque tivemos aula na hora anterior, fazendo uma algazarra de todo o tamanho, como era costume, fomos interrompidos pela voz obscura daquela senhora. Tinha um comunicado a fazer. Ansiosos, olhávamos uns para os outros como se, em uníssono, estivéssemos a pensar na mesma coisa. Tantos olhares e palavras sussurradas se trocaram, até que a professora disse o que tinha a dizer : ia-se reformar. Nós, alunos inocentes mas sarcásticos, transmitíamos olhares de tristeza e vozes de saudade instantânea. Que sentimentos forçados, falsos e irónicos foram aqueles. Os tais pensamentos cruzados sempre se fizeram cumprir. Era um dia de sorte para nós, pois aquela professora de que ninguém gostava, que todos a achavam medonha, de mau humor, sempre contra tudo, de voz possante e assustadora, ia-se embora.
Ficou marcada assim a senhora, aquela que todos a reconheciam como má.
Passaram quase 5 anos já, e ultimamente tenho-me sentido muito sozinha... com um longo e profundo vazio no meu peito e na minha alma. Parece que ninguém quer saber, ninguém quer cuidar de ninguém. Está tudo monótono, sempre ao mesmo ritmo, ao ritmo de simples rotinas. No entanto, estava eu com a minha mãe, fomos fazer compras. Estávamos a secção fria do leite, se não me engano, quando alguém de tocou na cabeça. Virei-me. Era ela. A professora que ninguém gostava. Continuava na mesma por fora, mesma estatura, mesmo tipo de óculos, etc. Ainda se lembrava de mim. Perguntou-me em que ano estava, e se estava tudo a correr bem. Eu lá disse, meia tímida, meia do meu jeito: "Já estou no 10º, professora e está tudo a correr bem, dentro do possível". E ela eis que me diz: "eu gosto de perguntar isto, para ver o quão pequena e velha estou a ficar. Espero que tenhas um bom ano e tudo de bom." ... "obrigada e igualmente" . Aquelas palavras de preocupação puseram-me a sorrir durante muito tempo. Foram puras, sinceras.
De repente, o meu coração começou a ficar ressentido. Ressentido de muita coisa que disse e fiz contra aquela senhora, que era um mero ser humano, sensível e, pronto, normal. Como podemos ser tão moribundos para alguém? Como, mesmo em crianças, somos capazes de julgar o livro pela capa? Como podemos ser narcisistas ao ponto de acharmos alguém feio ou mau simplesmente pela forma como trabalha ou trabalhava?
Foi a partir desse momento que parei de julgar as pessoas pela forma como elas são connosco em situações de pressão, simplesmente parei. Sei bem o trabalho e desgaste que dá a uma pessoa ser professor. Agora fazia sentido, que tudo aquilo que ela me ensinou, não era para me atacar, nem nada do género, porque, muito pelo contrário, fez-me crescer!
Por isso, eu vos digo, reconheçam o trabalho que cada pessoa faz para vos pôr a evoluir e crescer, não liguem a pormenores fúteis, sejam meigos, saibam perdoar, saibam falar, saibam respeitar e, o mais importante, saibam ouvir... as melhores lições vêm as situações banais, por isso é preciso estar atento! *
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